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Retratos da Insegurança Alimentar

Pobreza cresce em Roraima e aumenta a procura por ONG’s de assistência


Foto: Divulgação

Um levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgado no fim de agosto mostra que a pobreza cresceu 2,6 pontos em um ano em Roraima, chegando a cerca de 46,16% da população roraimense. Isso significa que aproximadamente 228 mil pessoas vivem durante todo o mês com apenas 500 reais.


O levantamento da FGV foi feito com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com esse resultado, Roraima alcança a 11ª posição no ranking dos Estados mais pobres do Brasil.


O sociólogo, professor e coordenador do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Roraima, Rodrigo Chagas, avaliou o conceito de pobreza e de que maneira esse cenário afeta o bem-estar social.


“O conceito de pobreza é complexo, e está em mais do que a ausência de bens materiais, além da negação de oportunidades que acabam por restringir o desenvolvimento do ser humano”, avalia

Protagonismo de ONG's Assistenciais


Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE, 39% dos roraimenses vivem a chamada insegurança alimentar, entre leve, moderada e grave, que é quando a pessoa não tem a certeza de que irá se alimentar da maneira adequada no dia seguinte.


Segundo o sociólogo Rodrigo Chagas, o valor dos preços dos alimentos, na escalada inflacionária, tem sido um dos principais fatores que motivam esse cenário de instabilidade na alimentação.


“O valor ideal de salário para suprir todas as demandas do brasileiro seria de aproximadamente R$ 6.388,55, segundo dados do Dieese [Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos, movimento sindical que desenvolve pesquisas econômicas], ou seja, a esmagadora maioria não teria acesso a um padrão mínimo ideal de ‘bem-estar’, obviamente reduzido aqui à renda”, comenta Chagas.

Com o aumento dos preços que diminui o poder aquisitivo da população de baixa renda, ONG’s ganham um protagonismo maior, principalmente com famílias de baixa renda.


Áurea Cruz está a frente do projeto Mexendo a Panela, que atua há sete anos em Roraima com ações de combate à fome. Com mais de dois milhões de refeições servidas, a ONG trabalha com voluntários para a distribuição de alimentos para famílias em situação de vulnerabilidade econômica.


“Temos uma média de 700 pessoas que atendemos atualmente, com parcerias, porque anteriormente, nosso projeto era financiado por doações que eram realizadas na Igreja da Consolata”, conta ela, integrante do projeto desde 2016.

Segundo a organização, ao todo, já foram mais de 250 mil pessoas atendidas pela ONG no Estado, e cerca de 6 mil cestas básicas distribuídas desde o início do projeto. Com a crise migratória, o projeto também passou a auxiliar imigrantes venezuelanos a saírem da linha da pobreza.


É o caso de Luíz Estíven, imigrante venezuelano, pai de quatro filhos, que chegou ao Brasil em 2018 e contou com a ajuda da ONG para superar a insegurança alimentar.


“Estava realmente em situação de rua, passava fome e não sabia o que daria aos meus filhos no dia seguinte. Recebia roupa, abrigo, comida, até eu conseguir oferta de trabalho”, conta o imigrante, que hoje mora em Santa Catarina, sul do país.

Consequências da Pobreza


Para analistas sociais, além da queda nos índices do bem-estar da sociedade, outros problemas endêmicos no país seguem sendo alimentados pelos índices elevados de pobreza em Roraima. A violência é uma delas, segundo o especialista.


“O tecido social tende a se deteriorar, dando espaço para a violência, ainda que ela não seja ligada exclusivamente à miséria. Se tivesse que escolher apenas uma consequência, ficaria com o medo na forma da insegurança. Por si só ele pode causar impactos políticos, econômicos e sociais dos mais sérios”, diz o sociólogo.

Ele ainda explica que o Estado tem se tomado omisso, o que facilita que o meio privado, por meio de ONG’s auxiliem no combate à fome, ainda que a competência seja do poder público em promover as políticas de combate à miséria.


“Dizer sobre ‘o que fazer’ socialmente implica sempre numa posição política. Mas, inegavelmente, o papel dos governos é cumprir a Constituição e as ONG’s vão ter maior ou menor relevância conforme a região, mas, a responsabilidade de, por exemplo, garantir um salário mínimo para as pessoas é constitucionalmente do governo”, finaliza o sociólogo.

Repórter: Naamã Mourão

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