Fotos: Divulgação
O lixo orgânico pode ser descartado adequadamente como adubo para a terra; para isso, são necessários projetos coletivos e políticas públicas que enfrentam esse problema na escala adequada.
Os resíduos orgânicos representam mais da metade dos resíduos sólidos urbanos gerados pelas residências brasileiras. Grande parte desse volume se deposita em aterros sanitários, onde se torna uma fonte de gás metano à medida que se decompõe.
Nos próximos 20 anos, estima-se que o impacto potencial do gás metano no meio ambiente seja 80 vezes maior que o do CO2, a principal causa do aquecimento global. As emissões do Brasil em 2020 foram de 21,7 milhões de toneladas, segundo dados do Observatório do Clima.
O mesmo estudo afirma ainda que cada brasileiro produz em média 379,2 quilos de lixo por ano, o equivalente a mais de 1 quilo por dia, o que contribui para a poluição do solo e da água, além de atrair vetores de doenças, como mosquitos e ratos.
Os resíduos orgânicos degradam-se naturalmente, podendo fechar o ciclo com facilidade, mas quando se acumula em grande número sem os devidos cuidados, podem se tornar um grande problema. A compostagem, que envolve a conversão de matéria orgânica em adubo, é uma forma de fechar o ciclo e, ao trabalhar com a destinação adequada dos resíduos orgânicos, a solução pode, em última instância, ajudar também a aumentar a produtividade agrícola e combater a fome.
Iniciativas de compostagem coletiva no Brasil e no mundo, sejam elas comunitárias, públicas ou privadas, têm mostrado o enorme valor de transformar o lixo orgânico em uma profunda mudança social.
O projeto Boa Vista Acolhedora trabalha com a sociedade civil, empresas e autoridades públicas para promover o conhecimento, o acesso à tecnologia e construir uma agenda pública com foco em economias circulares, regenerativas e inclusivas para venezuelanos e brasileiros desfavorecidos, além de implementar uma segmentação intersetorial inovadora do Programa Piloto de Práticas do setor agroalimentar.
Suas ações se inserem no campo da democracia participativa, envolvendo diferentes atores na agenda da economia circular e na promoção de direitos humanos como acesso ao conhecimento, trabalho decente e sustentabilidade ambiental.
Segundo a gerente do projeto Julia Petek o planejamento da ação surgiu através ideia do aperfeiçoamento da agroecologia em uma cidade da amazônia legal e para que houvesse a implementação da estratégia na cidade de Boa vista contou com o apoio da Prefeitura Municipal de Boa Vista, da ACNUR, da Operação Acolhida e do Pacto Global.
“A ideia do projeto é a criação de um centro de compostagem para materiais orgânicos, que produzirá insumos que será reintroduzido na cadeia agrícola, permitindo que os agricultores familiares tenham acesso a adubo orgânico, demanda existente na região do lavrado, dessa forma os produtores poderão trabalhar com uma rede de produção mais sustentável”, contou.
Para fortalecer redes de troca de conhecimentos e inovações tecnológicas nas áreas de economia circular, agroecologia e integração intercultural de comunidades, a equipe do projeto visitou as instituições urbanas previamente levantadas e mapeadas nas cidades de Florianópolis (SC) e Recife (PE).
A Associação de Mulheres Revolução dos Baldinhos foi uma das entidades que recebeu integrantes do projeto, referência em gestão comunitária de resíduos orgânicos e agricultura urbana, onde a atual presidente, a líder comunitária Cínthia Cruz, as recebeu. A organização atua como ponto cultural e de divulgação de negócios sustentáveis.
Iniciativa da comunidade Chico Mendes, em Santa Catarina, foi um dos exemplos mais expressivos de transformação. Em 2008, os moradores locais buscaram uma solução quando a falta de coleta de lixo deixou a área infestada de ratos. Para eliminar a origem das pragas, a comunidade passou a condicionar lixeiras orgânicas para posterior tratamento centralizado.
Segundo a Líder comunitária o sucesso do projeto foi tanto que mobilizou o desenvolvimento de políticas públicas em todo o Brasil, sendo a primeira empresa do Brasil a coletar e compostar resíduos orgânicos residenciais.
“A compostagem coletiva é importante para que a sociedade veja o verdadeiro valor do lixo orgânico e o impacto positivo que ele pode ter quando descartado corretamente”, Cínthia Cruz.
Repórter: Dannyella Batista
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