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Prólogo

Atualizado: 22 de ago. de 2021

“Os pensamentos são sombras dos nossos sentimentos, sempre mais escuros, mais vazios, mais simples”

- Frederick Nietsche


Acho que não é preciso muita discussão para que todos nós entremos em um consenso de que a humanidade é um tremendo equívoco e que Deus, se ele realmente existir, mais do que errou quando nos permitiu evoluir até onde estamos.

Esses seres que não agregam em nada no mundo, que não fazem o bem e que não ajudam na grande engrenagem que faz o mundo girar e ser o que é hoje, em questões científicas, deveriam ser exterminados a todo custo e estamos mais do que atrasados em começar esse genocídio.

Todo santo dia, recebemos alguma notícia sobre troca de tiros entre a polícia e traficantes, sobre assaltos a bancos e mercearias ou, o mais difícil de engolir, assassinato de algum inocente. E ainda há aquelas notícias que a mídia não anuncia em lugar algum, talvez por medo de represálias ou de que isso cause um alvoroço global, mas não quero entrar em detalhes aqui.

O mais engraçado é pensar no motivo de disso tudo. Você sabe o motivo pelo qual alguém desiste de viver honestamente e decide virar uma aberração, um erro da natureza, um ser fraco, destinado a viver na lama até o fim dos seus dias? Bom, não tem explicação, o mal existe e ponto. E não venha me dizer que isso tudo é porque os humanos têm livre arbítrio para fazer o que quiser, porque, no fim, essa conversa furada não vai convencer ninguém, principalmente você mesmo quando encontrar quem ama assassinado na sala e a única coisa que lhe resta a fazer é chorar.

Digo isso, por que eu vivenciei isso. Quando era criança, vi minha mãe ser baleada na minha frente, senti seu corpo ficar freio lentamente enquanto seu sangue escorria pelos meus dedos. Senti seu peito ficar sem ar enquanto ele tentava sussurrar para mim suas últimas palavras e após isso, vi seus olhos perderem o brilho antes mesmo que eu pudesse dizer a ela o quanto a amo. Não há como alguém esquecer uma cena como essas, não dá para superar a dor de uma perda, pelo menos não essa perda.

A morte da minha mãe não me fez bem, não só pelo fato de crescer sem um apoio emocional que me mantivesse na linha, acho que tudo isso foi só a ponta do iceberg. morar sozinho com um pai alcoólatra que me batia todos os dias por achar que a morte da sua esposa era culpa minha, sofrer abusos dos funcionários da minha escola e bullying dos alunos simplesmente por ser diferente me fez crescer mais cedo e me torna alguém completamente diferente daquilo que minha mãe queria que eu fosse.

No final da minha infância, momento esse que talvez eu nunca tive, eu comecei a ligar a TV nos canais policiais e assistir o jornalismo policial sensacionalista, por incrível que pareça eu não conseguia ficar chocado com as notícias que eu via, mas eu sempre pensava no motivo pelo qual as pessoas faziam isso, quais as suas motivações, e por que alguém se sentiria tão bem cometendo um assassinato? Com isso percebi que os motivos para uma vida de crime são sempre os mais fúteis: ganância, inveja, ira, vingança, diversão. Não posso negar que uma semente de ódio foi plantada em mim e isso só passou a crescer com o passar dos anos.

Durante a minha adolescência, comecei a ler relatos sobre serial killers, não deve de ser muito difícil de acreditar que isso aconteceria devido as minhas pesquisas anteriores, mas eu queria entender como funcionava a cabeça de uma pessoa que se divertia matando e torturando um outro ser humano.

Em um determinado ponto do meu estudo, concentrei-me em um dos mais famosos e mais bem-sucedidos assassinos em série: Jack, o estripador. Sempre tive a curiosidade em saber como Jack escolhia suas vítimas, as torturava e as matava, e, mesmo deixando uma pilha de corpos para trás, nunca chegaram perto de prendê-lo. Nunca entendi o motivo de todos os suspeitos serem homens, ou porque deles sempre trabalharem sozinhos, afinal, deve ser mais fácil agir em dupla para cometer esse tipo de crime. Acredito que, na verdade, o jornal inglês inventou essa história toda de um assassino em série na cidade de Whitechapel, junto com a primeira carta, mas no fim, como toda boa lenda, os boatos se tornará reais, fazendo com que uma dupla de assassinos surgisse e tornando a lenda do Jack estripador real. não posso negar, mas dado os fatos, talvez eu não me livrasse da possibilidade de ser mais um monstro como Jack foi, afinal, tudo que aconteceu comigo no passado me forçou a ser aquilo que eu mais detestava e me afastou do caminho que minha mãe queria que eu seguisse, o de ser um herói da justiça, algo como um policial ou um soldado do exército. Porém, vê-la morrer em meus braços, ser agredido pelo meu pai todo santo dia e me interessar pelo mistério acerca dos assassinos em série, tudo isso pode ter me transformado em alguém que traria vergonha a aquela que eu mais amei. Mas antes que tire conclusões precipitadas, quero lhe dizer que tudo que faço é por ela e mesmo não sendo difícil de acreditar, no fim, isso é justiça!

Sendo assim, quero que você decida, se eu sou realmente um justiceiro ou apenas mais um monstro como Jack foi. A decisão está em suas mãos, afinal, não existe melhor júri do que uma possível próxima vítima.


- Por Mairon Compagnon

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