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‘Não pretendo parar’: com presença ainda tímida, empreendedorismo de idosos compensa com experiência

Foto do escritor: CacosCacos

Atualizado: 14 de jul. de 2023

Empreendedores na terceira idade representam apenas 0,1% em Roraima. Acesso à tecnologia pode ser uma barreira.

Isanilde de Pinho, de 61 anos, integra grupo de idosos que empreendem em Roraima - Foto: Nilzete Franco

“Eu venho aqui para me divertir, brincar, sorrir e vender o meu cachorro-quente. [Parar] Não, não, não. Não pretendo não, nunca pretendi não”, disse decidida e com bom humor a ambulante Isanilde de Pinho, 61 anos, que aos finais de semana e feriados, instala a sua barraca de cachorro-quente na Praça das Águas, em Boa Vista. Ela faz parte de um pequeno grupo de idosos, mais precisamente 0,1%, que são empreendedores em Roraima.


Este dado integra um estudo realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em 2021. A pesquisa contabilizou, ao todo, 2.047 empreendedores roraimenses da terceira idade.


Dona Isa, além da barraca de cachorro-quente, também constrói sua renda com serviços de faxina em casas familiares. Ela, no entanto, é um ponto “fora da curva” do estudo do Sebrae, que aponta os idosos como os que mais se dedicam a um único trabalho.


“Eu me sinto muito bem. Gosto de estar no meio do povo. Aqui eu vejo todo mundo, tô no meio do povo, conversando, brincando e vendendo, ganhando meu dinheiro aqui”, salienta dona Isa.

A poucos metros da barraca, um pequeno carrinho de pipoca também marca presença no local há cerca de 20 anos. Para Deusimar Barros, 60, assim como para dona Isa, as vendas na praça são um complemento do que ele recebe catando latinhas e fazendo frete com o carro.

Deusimar Barros trabalha há 19 com a venda de pipoca na Praça das Águas, em Boa Vista - Foto: Nilzete Franco

“[A pipoca] surgiu por falta de emprego e a gente não tem um estudo bom, aí o que tivesse a gente encarava e eu tinha um amigo que vendia pipoca. Ele me chamou para vender e criou a família dele todinha vendendo pipoca. Ele comprou um carrinho para mim e eu comecei trabalhar. Trabalho todo dia, de sol a sol”, detalhou Deusimar.


Idosos empreendem pela renda extra ou para não ficarem inativos, diz economista

O empreendedorismo na terceira idade surge por alguns motivos, como explica o economista da Fecomércio de Roraima, Fábio Martinez. Entre eles está a necessidade de complementar a renda gerada pela aposentadoria ou para não “ficar parado”.


Entretanto, a disponibilidade de crédito “na praça” não deve ser um obstáculo para eles. De acordo com um estudo, realizado em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Sebrae revela que os empreendedores com mais de 65 anos, que são proprietários de seus negócios, têm maior facilidade em obter empréstimos junto aos bancos. Esses dados são referentes a 2021 e mostram que 66% dos empreendedores mais experientes que buscaram instituições financeiras, conseguiram obter empréstimos, uma porcentagem maior do que a média geral de 52%.


“A gente sabe que com a aposentadoria, às vezes não é suficiente para arcar com as despesas, principalmente de saúde, que quando aumenta a idade, acabam ficando mais elevadas. Mas também tem aquelas pessoas que não querem ficar paradas. Que chegou a aposentadoria, mas querem continuar ativas, produtivas. Só que sem ter um chefe, para não ter aquele compromisso”, complementa Martinez.

Economista Fábio Martinez acredita que uma troca de experiência entre jovens e idosos empreendedores deve auxiliar no engajamento digital, visto que alguns não entendem como as redes sociais funcionam - Foto: Nilzete Franco

Para Martinez, apesar da presença tímida no mercado, o empreendedorismo na terceira idade compensa com a bagagem carregada de experiência dos idosos, que geralmente investem em áreas das quais já trabalharam. Entretanto, a necessidade de marcar presença nas redes sociais pode ser uma barreira, devido alguns desconhecerem o manuseio da tecnologia.


O economista afirma que o auxílio de uma pessoa mais nova servirá como um complemento neste empreendedorismo da pessoa idosa, pois “fazem sim a diferença para a economia do nosso estado e do nosso país”, disse.


“Boa parte dos empreendimentos depende muito, em maior ou menor grau, do uso de tecnologias, redes sociais, sites, que muitas vezes os idosos desconhecem esse tipo de manuseio de tecnologia. Por isso, é muito importante para aqueles idosos que tentam empreender, comecem a se familiarizar com essas novas tecnologias para conseguir impulsionar o seu trabalho. E é sempre bom, interessante, uma troca de experiências. Não deixar apenas o idoso trabalhando nisso”, explicou.


Repórteres: Nilzete Franco e Vanessa Fernandes.

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