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'LGBTfobia', 'extremismo': Prefeitura de Boa Vista é criticada após cancelar show de Johnny Hooker

Foto do escritor: Caíque  RodriguesCaíque Rodrigues

Show aconteceria no último sábado (30).


Por Caíque Rodrigues

Foto: Reprodução/Redes sociais/Johnny Hooker


“Mais uma vitória da LGBTfobia, do extremismo religioso e do conservadorismo no Brasil”, é assim que o músico Johnny Hooker define o cancelamento de sua apresentação no festival Mormaço Cultura, em Boa Vista, realizado no último final de semana. O show foi cancelado pelo prefeito Arthur Henrique (MDB) após um vídeo antigo do artista ser alvo de críticas de políticos de direita e evangélicos locais.


Desde a publicação de um vídeo nas redes sociais onde o prefeito explica os motivos do cancelamento do show, a prefeitura tem sido criticada por lideranças e organizações do movimento LGBTQIA+, que acusam o prefeito de apoio à pautas conservadoras.


No vídeo antigo, que foi ressurgido, Johnny Hooker expressou uma mensagem de protesto afirmando que Jesus tinha uma identidade de gênero diferente. Após a decisão de cancelar o show, o prefeito Arthur emitiu um pedido de desculpas e enfatizou que mantinha firme seus princípios e valores.



Foto: Reprodução/Redes sociais/Arthur Henrique


"Eu quero pedir desculpas, respeito é algo que eu não abro mão, todos sabem dos meus princípios e dos meus valores, e como prefeito sempre vou fazer o melhor pelas pessoas e pela cidade de Boa Vista. De imediato, iniciamos as tratativas jurídicas e a meu pedido, a Fetec cancelou essa atração do festival", destacou o prefeito.

O cancelamento aconteceu depois que alguns políticos conservadores e membros da comunidade evangélica local compartilharam vídeos antigos de Johnny Hooker, que datavam de um show realizado em 2018 em Pernambuco. Naquela ocasião, o artista expressou seu desacordo em relação ao cancelamento de uma peça teatral que retratava Jesus com uma atriz transgênero no papel principal, usando sua performance como um ato de protesto.



Foto: Reprodução/Redes sociais/Prefeitura de Boa Vista


No vídeo, Johnny Hooker salientou o pronunciamento do prefeito no momento do cancelamento, no qual o prefeito afirmou que os artistas foram selecionados pela Fundação de Educação, Turismo, Esporte e Cultura de Boa Vista (Fetec) com base em interações nas redes sociais, onde "as pessoas apontaram quem elas gostariam de assistir no festival", quando o evento foi anunciado, segundo o prefeito. Ele chamou ainda o cancelamento de "arbitrário".


"Arthur diz em um vídeo publicado em suas redes sociais que a programação do festival Mormaço foi composta através de pedidos que foram realizados no site da prefeitura e no site do festival. Olha, meu show foi incluído na programação por clamor popular, por que a nota de cancelamento da Fetec fala em motivos de interesse público pra cancelamento?", questionou o artista.


A Fetec foi procurada pela reportagem, e disse que cancelamento do show do cantor "não se deu, em hipótese alguma, por LGBTQIAPN+fobia" e que "algumas manifestações ultrapassaram o limite da crítica, com ameaças que poderiam colocar em risco a segurança do cantor e do próprio público".


Uma das organizações LGBTQIA+ que repudiou o cancelamento foi a Associação Grupo Athena Cores de Roraima (Agac/RR). Em um vídeo – compartilhado pelo artista nas redes sociais – a Agac afirma que "o poder municipal não reconhece a população LGBTQIAPN+ enquanto legítimas e dignas de cultura".


"É profundamente consternador ver que a Prefeitura de Boa Vista optou por tal ação, após pressão de grupos políticos conservadores, que utilizaram uma fala do artista, de forma descontextualizada, para promover um ataque coordenado ao nome de Hooker enquanto artista do evento, sob argumentos pífios, como mal uso do dinheiro público uma vez que sua arte não se enquadra em parâmetros cristãos", diz trecho da nota.


Foto: Reprodução/Redes sociais/Johnny Hooker


À reportagem, a vice-presidente e porta-voz da associação, Julhy Van Den Berg, afirmou que o prefeito de Boa Vista “cedeu às vontades de um grupo que fecha com pautas LGBTfóbicas”.


“Ter um show de uma artista LGBT nacional em Roraima vinha sendo uma felicidade sem tamanho. A gente sabe das dificuldades da nossa classe que a gente tem programações promovidas pelo poder público que vão além disso. Mais triste ainda é saber que o prefeito da capital Arthur Henrique optou por ceder a um grupo restrito de pessoas conservadoras”.


“O público LGBT mais uma vez perdeu o espaço e a gente sente medo em pensar que o caminho pra mudança e segurança dos nossos corpos está longe demais”, disse a vice-presidente.


O show do cantor Jhonny Hooker aconteceria no próximo sábado (30) e seria em homenagem à cantora Marília Mendonça, segundo a prefeitura. Jhonny Hooker foi contratado por R$ 100 mil.


Durante o festival, artistas como Duda Beat, Emicida e Xamã manifestaram solidariedade e apoio a Jhonny Hooker. A cantora Duda Beat chegou a cantar um trecho da música do cantor, sendo acompanhada pelo público presente.


 
 
 

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