Foto: Sinjoperr

Uma das palestrantes do I Congresso de Jornalistas Profissionais do Estado de Roraima, realizado nesta quinta-feira, 15, com o tema "Jornalismo e Código de Ética: Por direitos humanos na Amazônia" foi a jornalista e escritora Cristina Serra, de Belém. Em seu discurso, ela debateu sobre o crescimento dos ataques a jornalistas, a indústria das fake news e a distorção do princípio da liberdade de imprensa.
Durante a estadia em Roraima, o Jornal Cacos entrevistou a autora do livro "Tragédia em Mariana: A história do maior desastre ambiental do Brasil". Na oportunidade, Cristina falou sobre os avanços da representatividade feminina na comunicação e citou como exemplo de inspiração e coragem no exercício da profissão grandes nomes do jornalismo investigativo no Brasil, como Patrícia Campos Mello, Juliana Dal Piva.
"Hoje no jornalismo a maioria são de mulheres na profissão, e elas têm desempenhado um papel muito importante. São jornalistas corajosas que servem de inspiração para quem deseja seguir a carreira, mas as mulheres precisam também ocupar um lugar de destaque maior nas instâncias decisórias", destacou.
Por outro lado, Cristina destaca os vários registros e levantamentos que mostram quadros de violência verbal e física contra jornalistas mulheres. A pesquisa "Assimetrias de Gênero no Mercado de Trabalho", realizada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) com base na entrevista de cerca de 500 jornalistas mulheres de 271 veículos diferentes do país, por exemplo, relata uma minoria do gênero feminino atuando em posições de poder e o aumento do assédio moral e sexual nas redações.
"São ataques sexistas, ataques machistas, esse é o grande retrocesso. Outro ponto a se falar é que por mais que tenhamos uma maioria de repórteres mulheres, precisamos também de editoras chefes, chefes de redação, diretoras de redação, nós precisamos que as mulheres ocupem esses lugares, onde as decisões editoriais sejam tomadas, esse ainda é um lugar ocupado na sua maior parte por jornalistas Homens, as mulheres precisam avançar e ocupar esse lugar". completou.
Segundo o relatório da Abraji, cerca de 73% das jornalistas afirmaram ter escutado comentários ou piadas de natureza sexual sobre mulheres no ambiente de trabalho. Outro dado que assusta é o número de relatos de violência psicológica, que chega 84%. No quesito violência de gênero, 65,7% das mulheres disseram ter visto outra mulher ou ter a própria competência questionada por colegas e superiores.
Apesar do atual cenário, muitas jornalistas têm atuado para mudar o quadro, um exemplo é o crescimento do debate sobre equidade de gênero no jornalismo. A pesquisa da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo aponta que pelo menos 56,6% das jornalistas brasileiras já publicaram reportagens com foco na questão de gênero. Sobre a ampliação de horizontes em prol da representatividade feminina, Cristina Serra se despede de Roraima destacando a importância de se construir um jornalismo plural e diverso.
"As mulheres jornalistas negras, indígenas, lgbtqiapn+ precisam ocupar lugares de destaque, temos que ter toda essa diversidade junto, só assim teremos um jornalismo plural e diverso, e só assim teremos um jornalismo que represente a população brasileira, é preciso que essa diversidade tenha voz e apareça. As mulheres já conseguiram um lugar de destaque tão grande no jornalismo, que isso não tem volta, as conquistas são sempre pra frente, a importância de ocupar lugares decisórios e ter essa diversidade em destaque, não tenho dúvida que isso vai ocorrer futuramente", concluiu.
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