Foto: Cauã Peres

Além dos gritos de comemoração em cada ponto marcado durante as partidas, sons de indignação ecoavam por toda a Vila Olímpica. Atletas revoltados com a atual edição dos Jogos Inter Atléticas (JIA), reclamam da desorganização do evento, da demora para a divulgação dos resultados, da falta de médicos no local para atendimento aos atletas e principalmente, da censura por parte da comissão organizadora.
As reclamações começaram durante os primeiros dias de jogos, nas disputas da segunda divisão. A atleta Ana Gomes, da Atlética Suprema, relata que venceram uma partida por W.O. (Walkover), mas o jogo foi invalidado porque o árbitro não fez a súmula, e a mesma teve de ser remarcada para outro horário, o qual as atletas não poderiam jogar.
“O árbitro disse que esqueceu de fazer a súmula da nossa partida e quando tentamos argumentar, ele disse que não falaria com atletas, só com a presidente da Atlética. Quando a presidente tentou conversar e fazer uma reata, o pedido foi negado e fomos obrigadas a jogar às 20h do mesmo dia, mas as atletas tinham compromisso, e perdemos o jogo por W.O, sendo que a outra atlética deveria estar às 14h na nossa partida de vôlei, mas estava esperando começar o Handebol, que só iniciava às 14h20 ”.
Após o primeiro fim de semana de confrontos, os atletas achavam que nas disputas da primeira divisão, a situação seria diferente. O atleta Gabriel Meneses, da Atlética Invictus, destaca que faltou equipamento em muitas modalidades, como bola, rede, cronômetro, relógios, mas o pior de tudo, foi a demora para definir os horários dos confrontos durante o JIA.
“Lembro que nossos jogos foram mudados três a quatro vezes, de um dia pro outro, ficamos acordados até madrugada para saber os horários dos Jogos e a única confirmação que deram foi que seria após as 10h e isso prejudica o desempenho. Eu senti que parte da organização se preocupou mais em mostrar que seria um grande evento ao invés de fazer um grande evento”.
Alguns atletas reclamam também do regulamento criado pela organização, como é o caso de Diogo Dantas, da Alfa. Ele afirma que a falta de critério dos árbitros, do regulamento e o desleixo por parte da comissão para com os atletas, dentro e fora das quadras, marcaram negativamente todo o evento.
“Todo mundo se preparou, em pelo menos, mais de quarenta e cinco dias para jogar. Todo mundo se machucou, se feriu, abdicou um pouco de algo, da família, do trabalho, namorada, amigos. Poderia estar fazendo outra coisa, mas estava até tarde treinando, para simplesmente acontecer tudo que aconteceu. O meu time foi desclassificado por uma confusão generalizada que ocorreu entre dois times, no qual um teve uma punição de um ponto e o outro de seis. Totalmente desproporcional e parcial. E quando entramos com recurso, na reata, eles nem analisaram”.
Com tamanha indignação pela organização dos Jogos, alguns atletas tentaram colocar a culpa em outras pessoas que não tinham vínculo com a comissão, como é o caso do acadêmico de Comunicação Social da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Cauã Peres, fotógrafo voluntário do Jornal Cacos, que ao sair da Vila Olímpica, foi cercado por atletas da Atlética Desbravadores.
"Quando eu saí do carro em direção a uma das quadras, alunos de medicina me pararam e de maneira eufórica começaram a perguntar por qual motivo o Jornal Cacos não falava sobre o que tava acontecendo durante o JIA, que estávamos sendo omissos e eu disse que só ia tirar uma foto e que poderia falar sobre isso com a coordenação do Jornal, mas um deles começou a gritar comigo. Eu retruquei, entrei no carro e fui embora".
O Jornal Cacos solicitou uma nota da comissão organizadora do evento. Confira agora a nota na íntegra
“As atléticas Alfa e Heróica vem por meio desta esclarecer os últimos ocorridos.
No dia 18/06/2022, após um incidente com um atleta da atlética Desbravadores (incidente esse que nós lamentamos), houveram situações que nos fizeram concluir que o melhor para o evento, até então, seria a sua suspensão. No entanto, deu-se continuidade a festa, já que não existia tempo hábil para adiar. Ficou acertado que a comissão sentaria para alinhar seus pontos na data de hoje (19/06/22). Ocorre, que, na reunião, houve uma intervenção às atléticas que estavam à frente da organização, não podendo os mesmos expressar quaisquer explicações a respeito de todas as situações ocorridas durante evento, tirando assim a possibilidade proposta ontem, após a decisão de suspender os jogos, que era deliberar sobre como corrigir os incidentes, realizando, então, os jogos finais.
Dito isto, a Comissão reconhece suas falhas e esclarece que o trabalho voluntário, executado por nós, buscou o melhor para todas as atléticas participantes do evento”.
O Jornal Cacos solicitou nota também da Atlética Desbravadores que afirma:
"Comunicamos que lamentamos o ocorrido com o acadêmico de Comunicação Social da UFRR, Cauã Peres, que se sentiu intimidado por associados da nossa Atletica quando questionado sobre o trabalho que estava realizando. Houve uma falha de comunicação entre o Jornal e nossa diretoria e por isso não houve tempo hábil para elaboração de uma resposta antes da publicação da matéria.
Como acadêmicos, ressaltamos a importância da liberdade de imprensa e a importância dela na construção de uma sociedade democrática. Repreendemos qualquer forma de intimidação a jornalistas e defendemos uma imprensa crítica e informativa.
Informamos que medidas serão tomadas para apuração do fato e pedimos desculpas pessoais ao repórter".
Em relação às acusações pela qual o Jornal Cacos passou, a coordenação do Projeto publicou a seguinte nota de esclarecimento:
O Jornal Cacos é um portal de notícias fundado e comandado por alunos e ex-alunos do curso de Comunicação Social da UFRR. Uma evolução, um laboratório e oportunidade aos estudantes que estão chegando agora e desejam vivenciar mais a prática do jornalismo. Todo o trabalho desempenhando no JIA é para aprendizado dos próprios estudantes, a partir da vivência com fotografia, produção audiovisual e construção de reportagens, o que permite o usufruto de experiências com o jornalismo esportivo. Assim como os atletas, os repórteres saem de suas casas todos os dias de evento, sem receber nada, para fazer fotos dos atletas e noticiar os classificados de cada modalidade dos esportes disputados no JIA, o que não tem sido uma tarefa fácil. Esses mesmos repórteres estão recebendo acusações de serem comprados pela comissão organizadora do JIA, manipulando notícias e resultados. Nada disso é verdade. A única coisa que pedimos é respeito aos nossos repórteres, para que eles possam voltar para casa sem serem abordados por atletas que querem tirar satisfação, ou sejam xingados durante a cobertura de um jogo. No fim, mais uma vez, pedimos respeito aos nossos repórteres que estão dando destaque ao brilho dos atletas durante toda competição.
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