BALLROOM | Movimento cultural toma conta da cena LGBTQ+ em Boa Vista
- Cacos
- 14 de jul. de 2023
- 3 min de leitura
Primeiro ato na cidade foi o Halloball em 2022, neste ano as lideranças do movimento reuniram cerca de 19 jovens para o Fica vai ter Ball!

Com o surgimento oriundo dos subúrbios de Nova York, a cultura Ballroom ganha o mundo e chega a Boa Vista como forma de potencializar a cena LGBTQ+ na capital roraimense. Conversamos com os pioneiros e lideranças do movimento na cidade, que explicam o porquê de inserir a celebração na região.
O representante do movimento em Roraima, Artur Roraimana, fala sobre como o ballroom trás uma nova opção de cultura para o público LGBTQ+ no estado “eu como pessoa LGBTQIA+ que vive a noite aqui em Boa Vista, sinto muito a falta de opções para o nosso público quando se trata de cultura e entretenimento e eu vi no ballroom uma forma de potencializar isso”, disse.

Explorando a estética e a performance da cultura de baile em Roraima, o produtor cultural junto com o pioneiro do movimento no estado, o professor de dança Israel Monteiro, realizaram de forma experimental o primeiro baile Ballroom em Boa Vista. O Halloball ocorreu em 2022, na época de halloween, e reuniu vários jovens da comunidade em uma festa com muitos trajes e produções de halloween dentro das categorias de um Ballroom.
Com o sucesso do evento na cidade, Artur decidiu junto com Israel inserir os bailes nas produções culturais do Estado, e neste ano, reuniram cerca de 19 jovens para o Fica vai ter Ball!, um ensaio de aquecimento para o próximo baile em Boa Vista.
Com a vivência do Ballroom no Rio de Janeiro, Israel Monteiro, que se mudou para Boa Vista para ser professor de dança, diz que sentiu a necessidade de trazer o movimento para Roraima. Segundo ele, os jovens do estado experienciaram isso, mas apenas de longe, por filmes e séries, e sabia que iria ser algo inovador na vida das pessoas LGBTQ+.
“As pessoas daqui já vivem um pouco do Ballroom, porém só tem o contato por filmes e séries ou pelo que sai nos jornais, eu vivi isso na pele no Rio e fazia muito sentido para mim participar e então decidi trazer essa experiência para cá também”, relata o professor.
O que é o ballroom?
As apresentações são voltadas para corpos LGBTQ+, especialmente pessoas trans (mulheres trans, travestis, transmasculino e pessoas não binárias) e pessoas cisgêneras com orientações sexuais não heteronormativas. A atividade visa construir um espaço seguro de celebração das suas existências e representação em situações de protagonismo.
Segundo e líder do movimento cultural em São Paulo , Fênix da Silva, o baile trouxe mais liberdade.
“Através da Ballroom acreditei que poderia ter outra profissão, além da dança, atualmente atuo também com moda. Na comunidade senti segurança para falar abertamente da minha sorologia e foi por meio dessa cultura que me entendi uma pessoa trans não-binária, onde desde 2021 me chamo oficialmente Fênix da Silva Leite. Sou grata por tudo que vivi até aqui e desejo viver muitos mais para presenciar o avanço da comunidade brasileira”.
Um dos elementos mais conhecidos da cultura ballroom é o Voguing, a dança de rua inspirada nas poses de modelos da revista Vogue.
A ideia surgiu de pessoas LGBTQ+ que, na época, eram presas apenas por sua sexualidade. Na prisão, essas pessoas tinham as revistas de moda como único entretenimento e, como meio de distração, reproduziam as poses das mulheres brancas nas páginas.
O documentário Paris is Burning define o voguing como “a versão gay das batalhas de hip hop”. Com o passar dos anos, a dança foi se desenvolvendo, criando diferentes estilos e modalidades.
No final dos anos 80, o voguing atingiu a cultura pop mainstream, após a cantora Madonna conhecer a cena ballroom de NY e reproduzir a arte em seu clipe “Vogue”.
Para Fênix, o Ballroom é uma forma de potencializar a comunidade LGBTQ+ em Roraima trazendo assim mais acolhimento das pessoas que são marginalizadas na sociedade.
“A Ballroom é fundamental em qualquer lugar que tenha pessoas. É natural que reúna pessoas LGBTQ+ pelo fato de ser um lugar que celebra suas existências, renova a autoestima, promove acolhimento e competição para elas. A cultura nos faz refletir sobre quem são esses corpos marginalizados pela sociedade e o porquê”, finaliza.
Por Antônio Duarte, Ester Arruda e Leandro de Sousa
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